Setor financeiro direciona mais crédito para a economia verde

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Bancos brasileiros estão destinando mais crédito para a economia verde. Em 2015, 16,7% dos financiamentos a empresas foram voltados a negócios identificados com processos mais limpos e socialmente corretos. No ano passado, essa participação cresceu para 18,8%.

A evolução está ligada à norma do Banco Central que inibiu o uso meramente marqueteiro da palavra “sustentabilidade” e obrigou cada instituição a formular suas políticas de responsabilidade socioambiental.

Na última década, bancos passaram a usar o conceito de sustentabilidade em suas estratégias de marketing, o que abriu espaço para discussões sobre a necessidade de regulação do tema no setor.

Em 2014, saiu a Resolução BC 4.327, como a forma de coibir o “greenwashing” (maquiagem verde) no setor e preparar as instituições para enfrentar riscos sistêmicos ligados ao ambiente, em especial mudanças climáticas.

A norma não dita procedimentos, mas princípios que norteiam bancos ao formularem suas políticas socioambientais. Desde que entrou em vigor, os bancos estão sujeitos à fiscalização pelo BC.

GESTÃO DE RISCO

A resolução foi considerada pioneira entre os emergentes pela abordagem de risco -quanto mais um banco financiar empresas do setor de energias fósseis, mais exposto estará a um cenário de precificação de carbono, e sua política de crédito deve avaliar esses impactos futuros.

“A resolução trouxe a sustentabilidade para o centro do negócio em bancos grandes, médios e pequenos. Ela melhora a gestão de risco e a qualidade do crédito”, diz Mário Sérgio Vasconcelos, diretor da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

A entidade monitora anualmente o percentual da carteira de crédito dos bancos que é dirigido à economia verde -setores que incluem energias renováveis, eficiência energética, agricultura, florestas, água, gestão de resíduos, construção, transporte, pesca e turismo.

“Os bancos já avaliam as atividades que financiam com base nessas definições”, afirma Vasconcelos.

Questões ambientais têm sido alvo de atenção do Banco Central nos últimos anos. Na crise hídrica que afetou o Sudeste em 2014, o BC tentou precificar a crise financeira que o país atravessaria caso a escassez de água levasse à incapacidade produtiva da agricultura e da indústria.

“Riscos ambientais e estabilidade financeira estão ligados”, diz José Roberto Kassai, professor da FEA/USP e coordenador do Núcleo de Contabilidade e Meio Ambiente da USP. O mercado tem consciência de que a redução de riscos demudanças climáticas será feita via instrumentos financeiros, diz ele.

Quanto maior o risco ambiental, maior o custo do crédito para o setor, com impactos na valorização dos papéis negociados em bolsa. “Empresas de capital aberto com grandes externalidades já sentem esse impacto no preço das ações”, diz Kassai.

ECONOMIA DE ÁGUA

A crise hídrica, por outro lado, representou oportunidade para a Empresta Capital, banco de microcrédito (empréstimos de até R$ 4.000) voltado para pequenos negócios e empreendedores informais cuja carteira ativa tem 11 mil clientes.

A empresa financia quem deseja investir em soluções de eficiência energética e de economia de água, especialmente em condomínios.

“Percebemos essa demanda bem forte com a crise de água em 2014, e a partir daí começamos a elaborar produtos específicos. Hoje, 10% da nossa carteira é de crédito para eficiência de água e energia”, afirma Ricardo Assaf, que é presidente da Empresta Capital.

Em média, as melhorias trazem economia de água de 30% e redução de custos de até 15% para os condomínios. O programa deu tão certo que rendeu à empresa, neste mês, o prêmio na categoria sustentabilidade da “World Finance”, uma das principais publicações inglesas sobre mercado financeiro.


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