Segurança alimentar nas feiras permanentes do DF (Artigo)

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Todo fim de semana, milhares de pessoas se deslocam até uma das feiras permanentes do Distrito Federal com sacolas e carrinhos para as compras de verduras, frutas, legumes, peixe, frango, carnes e ovos, além de uma outra infinidade de itens de alimentação. A prática envolve desde tomar café da manhã, comer pastel e tira-gostos e tomar cerveja até almoço farto e variado, vendido por peso, à la carte, prato feito ou comercial.

O que leva verdadeira multidão a trocar propalada comodidade dos supermercados para percorrer diversas bancas, numa procissão de compradores que disputam corredores apertados? Grande parte das pessoas acredita que esse movimento está relacionado à busca de artigos das gastronomias regionais. Gente que não quer perder o vínculo com a origem e enxerga na comida e nos produtos típicos uma forma de preservação da memória.

Trata-se de uma explicação óbvia demais, forte candidata a se transformar num equívoco. Será mesmo que esse público estaria somente buscando produtos regionais? Os números impressionam. São 20 mil pessoas na Feira do Guará, 25 mil na da Ceilândia, 25 mil na do Gama, essa, tradicional de rua. Sem contar os frequentadores das feiras de Vicente Pires, Cruzeiro e Núcleo Bandeirante.

Ao longo de 2009, pesquisa desenvolvida na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB) testou as hipóteses iniciais. O resultado apontou fortes indícios de que esses equipamentos públicos ultrapassam a condição de espaços de ofertas de alimentos e comidas regionais. São uma opção de compras da mesma natureza que os supermercados. Em grandes números, as redes de supermercado no Brasil respondem por mais de 90% do volume global de alimentos comercializados. Isso pode ser interpretado como sendo a opção de compra preferencial da população.

Por seu lado, nas cidades onde as feiras livres resistem ou são detentoras de mercados públicos, o fenômeno constatado em Brasília se repete. A venda varejista de cereais, carnes, peixes, aves, legumes, verduras e frutas intermediada por um agente que interage diretamente com o consumidor não dá sinais de esgotamento. O Correio Braziliense reporta em suas páginas diversas matérias sobre as feiras permanentes, com grande esforço dos repórteres em compreender esse universo. O trabalho é um contraponto importante às matérias superficiais, que tendem a abordar o tema pelo lado pitoresco. O jornal revela aspectos interessantes da história dos permissionários e consumidores. Relatos de comerciantes muitos anos na atividade, em que são construídas relações de fidelidade e cumplicidade que desbordam as relações de consumo.

A percepção é a de que esse tipo de varejo, que tem as relações de consumo mediadas por relações pessoais de confiança e camaradagem, representa importante fator de resistência aos processos de fragmentação das práticas e hábitos alimentares tradicionais, desencadeados a partir das urgências criadas pelo cotidiano urbano moderno, em que cada vez mais os espaços de convivência tendem a circunscreverem-se ao trabalho e à casa. Demonstra claramente a supremacia do individual sobre o coletivo.

Para a construção da condição de segurança alimentar e nutricional, compreendida aqui como garantia de acesso regular e permanente de todas as pessoas aos alimentos, preservadas a cultura e as práticas alimentares dos povos, espaços como as feiras do DF revelam-se estratégicos. A partir dessa premissa, deveria ser tomada como responsabilidade primordial do Estado, não só a preservação desses espaços, mas a adoção de políticas de abastecimento alimentar que melhorassem as condições de comercialização e ampliassem as garantias quanto à qualidade e segurança dos alimentos vendidos.

Um programa de abastecimento que contemple a comercialização varejista de alimentos, aponte para a construção de novo conjunto de normas e regulamentos específicos, é passo importante para fazer do sistema de abastecimento alimentar público local uma referência importante na construção da segurança alimentar e nutricional no seu sentido mais amplo.

Fonte: www.unb.br

Por: NEWTON NARCISO GOMES JÚNIOR

Professor da UnB, pesquisador do Núcleo de Estudos Agrários (Neagri/Ceam/UnB), economista, doutor em política social

Foto: ireceon.com.br


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