Mais de 18 milhões de pessoas recebem terapia antirretroviral no mundo, revela UNAIDS

0
812

Cerca de 18,2 milhões de pessoas já têm acesso à terapia antirretroviral. Número representa aumento de cerca de 1 milhão de indivíduos que passaram a receber tratamento no período de janeiro a junho de 2016. Apesar dos avanços, novo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) alerta para os riscos enfrentados por mulheres jovens, bebês, adultos e populações-chave.

03-09-2016ivoireaids

Publicado na segunda-feira (21), um novo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) revela que, de janeiro a junho de 2016, 1 milhão de pessoas vivendo com HIV passaram a receber tratamento antirretroviral. Para a agência da ONU, o avanço é fruto do compromisso cada vez maior dos países com a Aceleração da Resposta à epidemia.

Em junho desse ano, cerca de 18,2 milhões — os números exatos podem variar de 16,1 milhões a 19,0 milhões — de pessoas tiveram acesso a medicamentos, incluindo 910 mil crianças, o dobro do número registrado cinco anos atrás. De acordo com o UNAIDS, se esses esforços forem mantidos e ampliados, o mundo deverá alcançar a meta de 30 milhões de pessoas em tratamento até 2020.

Intitulado Get on the Fast-Track: the life-cycle approach to HIV (traduzido livremente para “Entre na via rápida: acelerando a resposta ao HIV com enfoque na abordagem do ciclo de vida”), o documento foi lançado em Windhoek, na Namíbia, pelo presidente do país, Hage Geingob, e pelo diretor-executivo do UNAIDS, Michel Sidibé.

“Há pouco menos de dois anos, 15 milhões de pessoas tinham acesso ao tratamento antirretroviral — hoje mais de 18 milhões estão em tratamento e novas infecções por HIV entre crianças continuam a cair”, disse o presidente Geingob. “Agora, temos de garantir que o mundo permaneça na Via Rápida (Fast-Track) para acabar com a epidemia de AIDS até 2030 na Namíbia, na África e em todo o mundo.”

O relatório contém dados detalhados sobre as complexidades do HIV e revela que a transição das meninas para a fase adulta é um período perigoso, particularmente na África subsaariana.

“As mulheres jovens enfrentam uma ameaça tripla”, disse Sidibé. “Elas correm alto risco de infecção pelo HIV, têm baixas taxas de testagem para o vírus e têm uma baixa adesão ao tratamento. O mundo está falhando com as mulheres jovens e precisamos fazer mais, urgentemente.”

Dados recentes da África do Sul mostram que as mulheres jovens estão adquirindo HIV de homens adultos, enquanto os homens adquirem o HIV muito mais tarde na vida, após a transição para a idade adulta, e dão continuidade ao ciclo de novas infecções.

O relatório também mostra que o impacto do tratamento no aumento da expectativa de vida está funcionando. Em 2015, havia mais pessoas acima de 50 anos vivendo com HIV do que nunca: 5,8 milhões. Se forem alcançadas as metas de tratamento, espera-se que esse número aumente para 8,5 milhões até 2020.

No entanto, as pessoas idosas que vivem com HIV têm até cinco vezes mais risco de desenvolver doenças crônicas. Por isso, uma estratégia abrangente é necessária para responder ao aumento nos custos dos cuidados de saúde de longo prazo.

O relatório também alerta para o risco de resistência aos medicamentos e para a necessidade de reduzir os custos dos tratamentos de segunda e terceira linhas. Também destaca a necessidade de mais articulação das políticas específicas de HIV/Aids com estratégias para tuberculose, o papilomavírus humano (HPV) e o câncer de colo do útero, bem como com programas de hepatite C, a fim de reduzir as principais causas de infecção e morte entre pessoas vivendo com HIV.

Em 2015, quase metade — 440 mil de 1,1 milhão — das pessoas que morreram de uma doença relacionada à AIDS morreram de tuberculose, incluindo 40 mil crianças.

“O progresso que fizemos é notável, particularmente em relação ao tratamento, mas ele também é incrivelmente frágil”, disse Sidibé. “Novas ameaças estão surgindo e, se não agirmos agora, corremos o risco do ressurgimento [da epidemia] e da resistência [ao tratamento]. Já vimos isso com a tuberculose. Não devemos cometer os mesmos erros novamente.”

“Só será possível acabar com a epidemia de AIDS se nos unirmos e se cada um fizer o que está dentro do nosso escopo, de forma criativa e abraçando fortemente as metas 90-90-90”, disse Eunice Makena Henguva, Diretora de Projeto de Empoderamento Econômico da Namíbia para a Rede Namibiana de Saúde para as Mulheres.

A publicação do UNAIDS detalha os problemas — e as soluções — que grupos específicos de idade, gênero e vulnerabilidade enfrentam para prevenir e tratar o HIV. Confira abaixo:

Desde o nascimento

Globalmente, o acesso a medicamentos contra o HIV para prevenir a transmissão do vírus de mãe para filho aumentou para 77% em 2015 — acima dos 50% registrados em 2010. Como resultado, as novas infecções por HIV entre crianças diminuíram 51% desde 2010.

O relatório destaca que, das 150 mil novas infecções pelo HIV em crianças em 2015, cerca de metade se deu através da amamentação. O levantamento ressalta ainda que a infecção através da amamentação pode ser evitada se as mães que vivem com HIV tiverem apoio para continuar tomando medicamentos antirretrovirais — o que lhes permite amamentar com segurança e garantir que seus filhos recebam os benefícios do leite materno.

O documento também mostra que apenas quatro dos 21 países prioritários na África forneceram teste de HIV a mais da metade dos bebês expostos ao vírus nas primeiras semanas de vida.

A análise relata ainda que, na Nigéria, país que responde por mais de um quarto de todas as novas infecções por HIV entre crianças no mundo, apenas metade das mulheres grávidas soropositivas são testadas para o vírus.

Segundo o UNAIDS, iniciativas inovadoras, como lembretes via SMS, podem garantir que mães procurem os serviços médicos e se tratem adequadamente.

O documento também encoraja os países a adotarem as metas do marco Start Free, Stay Free, AIDS Free (“Começe Livre, Permanaça Livre, Livre da AIDS”), liderado pelo UNAIDS e pelo Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Combate à AIDS (PEPFAR).

O objetivo da iniciativa é reduzir o número de novas infecções por HIV entre crianças, adolescentes e mulheres jovens, além de garantir o acesso ao tratamento antirretroviral durante toda a vida se estiverem vivendo com o HIV.

Durante a adolescência

O relatório mostra que as idades entre 15 e 24 anos são uma fase muito perigosa para as mulheres jovens. Em 2015, cerca de 7,5 mil jovens foram infectadas por HIV a cada semana em todo o mundo. Estudos realizados em seis locais da África oriental e austral revelam que meninas com idades entre 15 e 19 anos representavam 90% de todas as novas infecções pelo vírus entre as jovens de dez a 19 anos na África austral, e mais de 74% na África oriental.

Globalmente, entre 2010 e 2015, o número de novas infecções por HIV entre mulheres jovens de 15 a 24 anos foi reduzido em apenas 6%, passando de 420 mil para 390 mil. Para atingir o objetivo de menos de 100 mil novas transmissões do vírus entre meninas adolescentes e mulheres jovens até 2020, será necessária uma redução de 74% nos próximos quatro anos.

Muitas crianças que nasceram com HIV e sobreviveram estão agora entrando na idade adulta. Análises de 25 países, feitas em 2015, mostram que 40% dos jovens entre 15 e 19 anos foram infectados pela transmissão do HIV de mãe para filho.

A transição agrava outro desafio – um número elevado de mortes relacionadas à AIDS entre os adolescentes. Esse público tem o menor índice de adesão à medicação e as maiores taxas de falha terapêutica.

Como soluções para melhorar a prevenção, o UNAIDS recomenda manter as jovens meninas e rapazes na escola, aumentar a testagem para HIV e a circuncisão masculina médica voluntária, fortalecer o oferecimento da profilaxia pré-exposição (PrEP) e o acesso imediato à terapia antirretroviral.

Populações-chave

Em 2014, estimativas indicam que, globalmente, 45% de todas as novas infecções por HIV ocorreram entre membros de populações-chave e seus parceiros sexuais. O relatório alerta que novas transmissões continuam a aumentar entre as pessoas que usam drogas injetáveis — cerca de 36%, de 2010 a 2015 — e entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens — cerca de 12%, de 2010 a 2015. Além disso, novas infecções não estão diminuindo entre profissionais do sexo ou pessoas trans.

O relatório alerta que os níveis totais de financiamento estão muito abaixo do necessário para que os programas de HIV cheguem às esses grupos mais suscetíveis, particularmente o financiamento vindo de fontes domésticas.

Idade adulta

Em julho de 2016, no relatório sobre Lacunas na Prevenção do HIV, o UNAIDS já havia alertado que os esforços de prevenção não estão funcionando para os adultos e que as novas infecções por HIV nessa faixa etária não têm apresentado queda há pelo menos cinco anos.

O relatório cita as preocupações de que a África ocidental e central estão fora da Aceleração da Resposta. A região é onde moram 18% das pessoas que vivem com o HIV, mas o baixo acesso ao tratamento faz com que a região responda por 30% de todas as mortes relacionadas à AIDS em todo o mundo.

O levantamento lança nova luz sobre a infecção pelo HIV e o tratamento entre homens adultos, mostrando que eles são muito menos propensos a conhecer o seu estado sorológico positivo para o HIV e a ter acesso ao tratamento, em comparação com as mulheres.

Um estudo realizado em KwaZulu-Natal, na África do Sul, mostrou que apenas 26% dos homens estavam cientes de que eram soropositivos, apenas 5% estavam em tratamento e que a carga viral entre os homens vivendo com HIV era extremamente alta, tornando muito mais provável a transmissão para outras pessoas.

Rumo à idade avançada

O relatório mostra que a terapia antirretroviral está permitindo às pessoas HIV positivas viver por mais tempo. Em 2015, as pessoas com mais de 50 anos representavam cerca de 17% da população adulta (15 anos ou mais) vivendo com HIV. Em países de alta renda, 31% das pessoas vivendo com o vírus tinham mais de 50 anos.

O documento do UNAIDS também mostra que, a cada ano, cerca de 100 mil pessoas em países de baixa e média renda, com idade igual ou superior a 50 anos, estão propensas a adquirir o HIV, confirmando a necessidade de incluir os integrantes dessa faixa etária em diante nas políticas de HIV.

À medida que as pessoas vivendo com HIV envelhecem, elas também correm o risco de desenvolver efeitos colaterais de longo prazo, decorrentes da terapia antirretroviral. Alguns podem desenvolver resistência aos medicamentos e outros requerem também tratamento para comorbidades, como tuberculose e hepatite C. Medicamentos para essas doenças podem interagir com as drogas tomadas para tratar o HIV, levando a efeitos adversos.

A agência da ONU considera que pesquisas e investimentos contínuos são necessários para descobrir tratamentos mais simples e mais toleráveis para o HIV e para as doenças que tão frequentemente o acompanham; bem como para descobrir uma vacina e a cura para o vírus.

Encontrar soluções para todos, em todas as fases da vida

O relatório conclui que os investimentos devem ser feitos de forma sensata ao longo do ciclo de vida, usando uma abordagem com foco em localidade e população, para garantir que a atendimento necessário chegue às áreas geográficas e aos grupos que mais precisam.

A publicação convoca países a continuarem no processo de Aceleração da Resposta para prevenção, testagem e tratamento para o HIV, a fim de pôr fim à epidemia de Aids como ameaça à saúde pública até 2030 e de assegurar que as gerações futuras vivam livres do HIV.

Fonte: Onu Brasil
Foto: UNICEF / Olivier


Deixe uma resposta