Green Bonds: mercado do futuro

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Por Asclepius Ramatiz Lopes Soares, gerente geral da Unidade Negócios Sociais e Desenvolvimento Sustentável do BB

Tudo está interligado. O sentido de globalização como quebra de fronteiras entre mercados há muito foi ultrapassado. As nações que conseguem elevar o patamar de desenvolvimento precisam investir em infraestrutura, permitindo que suas economias se tornem mais dinâmicas. Nesse cenário, o comprometimento com causas específicas torna-se um diferencial, pois propõe um novo olhar para investimentos que acompanham avanços da sociedade. O reflexo disso pode ser observado na preocupação de investidores em procurar por investimentos que sejam sinalizadores de projetos economicamente viáveis e responsáveis do ponto de vista socioambiental.

É o caso dos chamados green bonds (GB), títulos de dívida emitidos para financiar ativos verdes ou de redução das mudanças climáticas. O principal motivo para emissão de um GB está relacionado à reputação, pois não se trata de uma emissão com taxas mais baixas, mas com demonstração de comprometimento com aspectos socioambientais. As emissoras encaram a modalidade de captação de recurso de forma semelhante a de um título de dívida tradicional. Apesar dos recursos captados serem destinados a projetos com adicionais socioambientais, os rendimentos são compatíveis com títulos tradicionais do mercado.

Na Conferência do Clima da ONU, em 2014, investidores que representam US$ 43 trilhões assinaram declarações sobre a importância de se agir sobre as alterações climáticas, com disponibilidade de multiplicar por 10 seus investimentos relacionados a esse fim. Em Paris, na COP 21, investidores comprometeram-se a elevar aportes nos títulos verdes, formando a Coalizão para Investimento em Infraestrutura Verde.

Estudos da Climate Bond Initiative, em 2016, estimam que o mercado de emissões de títulos alinhados ao clima movimentarão US$ 694 bilhões. Essas cifras faraônicas, no entanto, não falam português, e seu uso é exigente quanto a qualidade dos projetos. Ao mesmo tempo, abre-se uma janela de oportunidades para o Brasil viabilizar investimento em infraestrutura.

O Sistema Financeiro cumprirá papel importante nesse contexto. Tanto Febraban quanto o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) trabalham para viabilização desse mercado. Pesquisa do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV para a Febraban, em 2015, destaca que, além da conjuntura, o desenvolvimento do mercado nacional de GB enfrenta desafios estruturais, se comparados com o mercado internacional, dentre eles baixa liquidez mercado secundário, competição com títulos públicos e dificuldades como aumento do tempo de colocação e padrão de emissão. Apesar da ausência de um mercado interno e da economia, algumas empresas já foram bem sucedidas no mercado internacional, caso da BRF, com emissão de US$ 500 milhões na Europa. Adicionalmente, as empresas que não contam com hedge natural têm que superar o desafio do custo cambial.

Nesse contexto, o Banco do Brasil trabalha com a perspectiva de apoiar a organização do mercado nacional de GB e de parcerias com outras instituições financeiras e organismos internacionais, no sentido de desenhar estruturas que transponham os desafios e viabilizem o acesso aos capitais internacionais. Afinal, é o País criando bases para o desenvolvimento econômico necessário para a realização de investimentos consideráveis em infraestrutura sob bases sustentáveis.


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