Esporte promove desenvolvimento social e união entre os povos, dizem agências da ONU

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Casa do Reino Unido no Rio de Janeiro recebeu cerca de 70 crianças de comunidades cariocas em dia de atividades culturais e esportivas e promoveu debate sobre esporte e inclusão com atletas, representantes das Nações Unidas e de governos de diferentes países. Manhã foi animada pela música dos jovens dos grupos Favela Brass e Som na Lata.

Em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a British House — residência oficial do Reino Unido durante os Jogos Rio 2016, localizada no Parque Lage, zona sul da capital fluminense — reuniu na quinta-feira (11) ex-atletas, representantes da ONU, do governo de diferentes países e outros cerca de cem participantes para debater o papel do esporte na promoção do desenvolvimento social.

“Nós todos temos que nos unir para construir um mundo melhor, e usar o poder do esporte para aproveitar as habilidades das crianças, incluir o esporte na educação”, apelou o conselheiro especial do secretário-geral da ONU sobre esporte para a paz e o desenvolvimento, Wilfried Lemke, durante o seminário.

“Há centenas de exemplos positivos que mostram, por exemplo, como as crianças se respeitam quando praticam esporte coletivamente. Elas não perguntam aos parceiros de onde eles são, que língua eles falam. Elas simplesmente se divertem e aproveitam. Além disso, elas aprendem a trabalhar como um time e não só individualmente.”

Apesar do potencial do esporte para a construção de sociedades pacíficas, Lemke lembrou que as Olimpíadas deste ano acontecem em meio a maior crise de deslocamento forçado já registrada desde a Segunda Guerra Mundial — mais de 65 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar seus lares.

Entre as principais causas por trás da migração em massa, estão os 60 conflitos militares registrados em todo o mundo. Os confrontos não foram suspensos para as competições esportivas de agosto e setembro, apesar dos apelos por uma Trégua Olímpica, lamentou o conselheiro de Ban Ki-moon.

A conferência foi aberta pela apresentação musical dos percussionistas mirins do grupo Som na Lata, da comunidade do Turano, e dos jovens trompetistas do Favela Brass, da comunidade do Pereirão. Cerca de 30 crianças e adolescentes agitaram a manhã do Parque Lage com arranjos de samba, funk e clássicos do Carnaval carioca.

Elas e outros 35 jovens jovens participaram de atividades da Caravana das Artes e dos Esportes, uma iniciativa do UNICEF que vai ocupar as instalações da British House até sexta-feira (12), levando lazer para aproximadamente 450 meninos e meninas e capacitando em torno de 40 profissionais de educação.

Esporte no Brasil

Também presente no encontro, o representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, Niky Fabiancic, alertou que a prosperidade econômica não deve ser sinônimo de sedentarismo.

No Brasil, apenas 30% da população pratica alguma atividade física regularmente e somente 5% dos brasileiros seguem a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) — fazer 30 minutos de exercícios cinco vez na semana. Dados recolhidos pelo PNUD indicam que 45,6% dos brasileiros são sedentários. Deste contingente, quase metade abandonou a prática regular de atividades físicas entre os 16 e 24 anos.

Uma das maneiras de combater o sedentarismo — responsável pelo aumento da prevalência de diabetes, problemas cardíacos, câncer e outras doenças não transmissíveis que matam 300 mil de brasileiros por ano — é estimular o interesse por esportes desde cedo.

Fabiancic defendeu o que o PNUD chama de “escolas ativas” — centros de ensino que oferecem mais oportunidades de atividade física durante intervalos, aulas de disciplinas distintas e em finais de semana nos quais a infraestrutura dos colégios pode ser utilizada pela comunidade.

No Brasil, porém, apenas 56% de todas as escolas contam com professores de educação física em seu quadro de docentes — cenário que preocupa não apenas as Nações Unidas, como também atletas brasileiros.

Para a medalhista olímpica e ex-jogadora de vôlei Ana Moser, as políticas públicas para o esporte no Brasil não são pensadas em escala capaz de alcançar os 50 milhões de alunos matriculados nas escolas do país.

Segundo a atleta, o governo precisa adotar estratégias mais amplas “que agreguem a educação, o esporte, a saúde, a assistência social, todas as faces que atendem crianças e jovens”. “Para construir uma nação esportiva, é preciso atender a todos”, afirma.

Atualmente, Moser preside o Instituto Esporte e Educação, que trabalha no Rio de Janeiro desde 2005, capacitando professores e aumentado a oferta de atividades físicas em comunidades. A ideia é melhorar o uso de equipamentos esportivos que já existem, mas são subutilizados.

“O esporte é para todas as pessoas da mesma maneira, independente se chega em um nível de excelência ou competição de elite. Mas o esporte tem esse poder de transformar e, no dia a dia, de fazer aprender coisas novas, aprender a se superar, de conhecer suas potencialidades e limitações.”

Inclusão social

O representante do UNICEF no Brasil, Gary Stahl, considera que o esporte deve ser parte de uma estratégia para envolver os jovens nos sistemas de ensino, principalmente crianças e adolescentes de comunidades mais pobres ou suscetíveis a diferentes tipos de discriminação, como as pessoas com  deficiência.

“O direito ao esporte está dentro da Convenção Internacional de Direitos da Criança, está dentro da Carta das Nações Unidas”, explicou o dirigente sobre a importância das atividades esportivas para os programas da agência da ONU.

Entre as iniciativas desenvolvidas pelo UNICEF, a Caravana dos Esportes e das Artes leva atividades físicas e cultura há 12 anos para comunidades quilombolas, ribeirinhas, de periferias e do interior do Brasil.

Mais de 48 mil professores já foram capacitados pelo projeto e 3 milhões de crianças já se beneficiaram indiretamente do programa, que se instala em uma localidade por dez dias para conscientizar famílias e professores sobre a importância do esporte e da cultura na educação.

A Caravana vai embora depois desse período, mas o aprendizado permanece — e o UNICEF acompanha as comunidades visitadas para avaliar os avanços em cada município.

“A gente já atendeu a Vila Olímpica da Maré, a gente já foi para o Morro do Alemão, para Vila Isabel. O Rio de Janeiro é uma das áreas de atuação da Caravana. A periferia dos grandes é um dos nossos focos. Então, com certeza, a gente tem aí, para 2017, mais uma ou duas comunidades cariocas para serem visitadas”, promete a diretora das Caravanas, Adriana Saldanha.

Fonte: ONU Brasil

Foto: UNIC Rio / Pedro Andrade


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