No Brasil, 55,7 milhões de pessoas foram afetadas por secas e inundações entre 2013 e 2016, segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA). O Nordeste enfrenta a seca há seis anos seguidos, sendo essa a maior do último século. A cidade de Fortaleza, no Ceará, pode enfrentar racionamento se a situação não melhorar. Brasília (desde 2017) e São Paulo (entre 2014 e 2015) também já sofreram bastante com falta de água recentemente. Por que um país dotado de tantos recursos hídricos ainda sofre com esse tipo de problema? De que maneira podemos reverter esse quadro?
De acordo com Renato Giani Ramos, diretor técnico da Câmara Temática de Reúso da Água, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), além da mudança climática, o Brasil também sofre com a falta de diversidade na sua matriz hídrica, que faz com que o país não utilize todos os recursos disponíveis. Junto a isso, também é preciso considerar o significativo crescimento populacional das últimas décadas, que aumentou, consequentemente, a demanda por água. Apesar dessas questões, segundo ele, é possível minimizar a escassez hídrica que tem preocupado as autoridades brasileiras ultimamente.
Em primeiro lugar, o especialista destaca a necessidade “óbvia” de se reduzir o consumo. Mas, além disso, também é preciso diversificar o uso de fontes:
“Nós temos que pensar que a utilização de água deve ser feita como se fosse um cardápio de opções. Eu não posso mais pensar em pegar diretamente de um rio e só daquele tipo de rio. Eu tenho que pensar: eu posso pegar do rio, posso pegar de água subterrânea, posso pegar do oceano, posso pegar água de reúso”, disse ele em entrevista à Sputnik Brasil.
No seminário que acontece na capital paulista, estão presentes especialistas de diferentes países interessados em compartilhar suas experiências com o Brasil. Ramos destaca, entre eles, as autoridades de Israel, país que, apesar das condições climáticas e geográficas adversas, tem tido grande sucesso na gestão da água, e do México, que possui características mais parecidas com as do Brasil.
“O México tem muitas aplicações de reúso, um reúso muito focado na agricultura. Existe hoje um incentivo em muitas cidades em que as indústrias podem ter acesso a um custo mais barato a uma água de reúso do que a uma água tratada, potável, por exemplo.”
Para o especialista, se as devidas medidas não forem tomadas no sentido de uma gestão mais inteligente dos recursos, o país pode, perfeitamente, enfrentar novos períodos de escassez de água.
“Acho que a questão da mudança climática já está acontecendo. A gente já não tem mais a mesma frequência de chuvas como a gente tinha em anos anteriores. Essa dependência, ela já não pode existir mais. Se a gente não tiver um planejamento para saber viver essa nova situação, nós vamos viver escassez hídrica com mais frequência.”