Estresse hídrico é cada vez mais comum em cidades populosas mundo afora. No Brasil, a organização não-governamental The Nature Conservacy (TNC) calcula que diversas regiões sofram com o problema, entre elas Rio de Janeiro e São Paulo.
Mas o que é estresse hídrico e por que devemos nos preocupar com isso? Estresse hídrico é quando não há um equilíbrio entre a demanda por água e a capacidade de renovação do local. Pode ser causado tanto por problemas naturais- como quando não há disponibilidade natural de água- ou por fatores associados à atuação do homem, como a poluição e o desmatamento.
Em relatório da ONU divulgado no dia 18 de março, estimativas recentes mostram que 31 países experimentam estresse hídrico entre 25% e 70%. Outros 22 países estão acima do nível de 70% e, por isso, encontram-se em uma situação grave de estresse hídrico.
Causas do estresse hídrico
- poluição
- alta demanda
- desmatamento
- crescimento desordenado de cidades
- uso descontrolado por empresas, agricultores e consumidores
Muita demanda, poucos recursos
A agricultura (incluindo irrigação, pecuária e aquicultura) é a maior consumidora de água globalmente, respondendo por 69% da retirada anual de água em todo o mundo. A indústria (incluindo a geração de energia) responde por 19% e as residências particulares por 12%.
Segundo a The Nature Conservacy, a demanda mundial pela água vem crescendo cada vez mais, enquanto a sua oferta só diminui. Ou seja, atualmente, consumimos mais água mais rápido do que conseguimos reservar.
Samuel Barrêto, gerente de água da TNC no Brasil, explica que o manejo inadequado de uma bacia hidrográfica e o desequilíbrio hídrico tem sido os fatores estruturantes para o estresse hídrico.
“Comparando a situação, seria como as pessoas que vivem em condomínio. Não dá para as pessoas fazerem o que quiserem, há regras de convívio. Devemos seguir essa mesma analogia para o manejo da bacia hidrográfica onde vivemos”- Samuel Barrêto, gerente de água da The Nature Conservacy no Brasil.
“Sem essas regras de ordenamento e uso dos recursos hídricos temos acelerado esse quadro de estresse hídrico”, diz ele.
Segundo ele, na América Latina e no Brasil, de maneira geral, isso significa o crescimento desordenado das cidades, a ocupação de áreas que deveriam ser preservadas, o desmatamento, a poluição da água, a superexploração. “Para manter a disponibilidade hídrica precisaremos ter o ordenamento da bacia hidrográfica e o equilíbrio da gestão da oferta e da demanda”, diz.
O papel do reflorestamento
Algumas medidas podem ajudar a equilibrar esta equação entre demanda e oferta. Além do consumo mais consciente da indústria, da agricultura e da população, o reflorestamento tem papel chave nesta transformação.
Com o desmatamento, o solo fica mais exposto. Quando existe uma cobertura florestal, a árvore e as florestas contribuem para ajudar com que a água se infiltre e reabasteça o lençol freático, funcionado como uma esponja. Sem cobertura, a água corre superficialmente e provoca a erosão do solo com terra e sedimentos sendo levados para dentro dos corpos de água como córregos, rios e represas, que levam ao assoreamento.
O assoreamento é o acúmulo destes detritos e até mesmo de lixo no fundo de corpos de água. Esse acúmulo impede que rios, córregos e lagoas portem todo o seu volume hídrico, provocando transbordamento em épocas de grande quantidade de chuvas.
“É indispensável restaurar áreas prioritárias para a conservação de água e a ciência pode ajudar na identificação dessas áreas como as nascentes e matas ciliares. Outra tecnologia importante é o manejo adequado do uso do solo, como por exemplo, a construção de ‘barragenzinhas’, pequenas barragens que podem ser implementadas em propriedades e estradas rurais retendo o sedimento (terra ou areia) e auxiliando na infiltração da água da chuva no solo”, explica Barrêto.
Uso sustentável
O uso da água de forma sustentável também faz parte das medidas necessárias para frear o estresse hídrico. Os cidadãos têm um papel importante neste cenário, mas empresas e governantes devem trabalhar para evitar os impactos de uma possível crise hídrica generalizada.
“Aí está o maior desafio. Em geral há uma descrença global nos governos que não têm conseguido entregar ou responder aos desafios que temos. Mas também não é possível generalizar e temos exemplos positivos inclusive no nível municipal como na cidade de Extrema, Minas Gerais. Município pioneiro no pagamento por serviço ambiental à proprietários rurais por conservar e recuperar áreas em suas propriedades, como fez Nova Iorque”, diz Barrêdo.
Com a demanda crescente, a produção de alimentos pode ser afetada e conflitos por causa da água podem aumentar, diz a ONU.
“Os números falam por si. Como mostra o relatório, se a degradação do ambiente natural e a pressão insustentável sobre os recursos hídricos globais continuarem em ritmo atual, 45% do Produto Interno Bruto global e 40% da produção global de grãos estarão em risco até 2050. Populações pobres e marginalizadas serão afetadas de forma desproporcional, agravando ainda mais as desigualdades”, disse Gilbert F. Houngbo, Presidente da ONU-Água e Presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola.