Uma tenda hi-tech em plena Dubai. Uma palafita fincada num espelho d’água.
O pavilhão do Brasil na Expo 2020, que irá de 20 de outubro de 2020 a 10 abril de 2021 nos Emirados Árabes Unidos, poderia se resumir na conjunção dessas duas imagens.
O projeto, uma parceria dos escritórios MMBB, de Marta Moreira e Milton Braga, JPG.ARQ, de José Paulo Gouvêa, e Ben-Avid, de Martin Benavidez, foi vencedor de concurso organizado pela Apex-Brasil, agência que promove exportações e investimentos do país, e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil no Distrito Federal.
A Expo 2020 se articula em três eixos —oportunidade, mobilidade e sustentabilidade. Neste último, ficará o pavilhão brasileiro, com um tema específico, proposto pelo concurso —“together for diversity”, juntos pela diversidade.
A ideia da vida à beira d’água como elemento que une o país em sua diversidade foi o mote central para o projeto, que tem feições e execução austeras. É feito, resume Moreira, de “aço, lona e água”.
O aço é o da estrutura metálica, que caberia num contêiner, podendo ser facilmente desmontada e até remontada.
A lona é o revestimento principal dessa estrutura.
E a água é o grande elemento definidor do espaço, na forma de um grande espelho.
O projeto, porém, não se limita ao prédio —o edital incluía também a expografia. Esta ficou a cargo dos arquitetos Guilherme Wisnik e Alexandre Benoit.
A dupla trabalhou com a equipe do projeto arquitetônico na composição de uma “experiência, mais que um edifício”, como define Gouvêa. O edifício, frisa Moreira, “não era um suporte para a expografia” apenas.
A ideia de uma arquitetura que não é mero invólucro mas que se combina com o material a ser exposto fica clara olhando o projeto de perto.
Trata-se de uma estrutura de base quadrada, feita em metal, revestida com um tecido branco e translúcido que conforma tanto as laterais quanto a cobertura do espaço.
Essas paredes de lona não tocam o chão, ficando sempre a 70 cm da superfície, e formam um espaço, como destaca Martin Benavidez, que “não tem portas, caixilhos, não tem espaço definitivamente interior”.
Ainda assim, há uma indicação de entrada, no ponto onde a lona se recorta numa abertura alta o bastante para a passagem de uma pessoa.
À esquerda de quem entra, fica um edifício, também metálico e branco, de dois pisos, onde se alojam os serviços.
O bloco construído é o que se apelidou de palafita, com seus pés colocados dentro do espelho d’água. Este ultrapassa os limites do quadrado, formando praias e remansos em torno do acesso seco.
Essa espécie de lago será totalmente acessível a todos que quiserem nele se molhar. É um elemento que “toma o lote todo e cria uma situação em que dentro e fora não têm limite preciso”, diz Moreira.
A dissolução de limites deve se acentuar por meio do principal dispositivo expográfico previsto no projeto.
Ao redor dos visitantes, sobre todo o tecido, serão projetadas imagens, definidas pela curadoria —que além da equipe expográfica, terá membros da Apex-Brasil.
À noite, como o tecido é translúcido, o pavilhão deve se mostrar como uma lanterna; as projeções formarão, para quem vê de fora, uma fachada sempre mutante.
Outros recursos, como sons, mudanças de temperatura e mesmo odores devem ser empregados no pavilhão.
O edifício-palafita terá um espaço para mostras e, no térreo, café, restaurante e loja.
Outros serviços completam o programa necessário às atividades do pavilhão, como espaço para shows e conferências ou degustações de comidas típicas.
A ideia, segundo Alexandre Benoit, é “fugir de que o público tenha uma posição contemplativa” e que o espaço propicie “festa e fruição”.
E descanso, completa Martin Benavidez, para o clima feérico e espetacular que costuma marcar as exposições universais. “No contexto do deserto, é quase um oásis.”