A relação entre água e segurança alimentar pautou as discussões no segundo dia do Fórum Mundial da Água, em Brasília, nesta terça-feira (20). A programação destacou, entre outros aspectos, mecanismos para preservação do cerrado – segundo maior bioma da América do Sul –, o problema da fome no mundo e meios de promover a agricultura sustentável.

Ao todo, representantes de 172 países participam do encontro. A 8ª edição do fórum inclui mais de 300 mesas de debate, restrita aos inscritos, além de programação paralela aberta ao público. A expectativa da organização é de que, até sexta (23), cerca de 45 mil pessoas passem pelo fórum.

O vice-diretor da Divisão de Água e Solo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Olcay Uver, era um dos nomes mais esperados para o debate desta tarde. O especialista em segurança alimentar destacou que, apesar dos esforços internacionais para reduzir a pobreza, a fome crônica cresce no mundo.

A situação, segundo a FAO, ocorre principalmente na Ásia e na África, depois de ter diminuído durante a segunda metade da década de 1990. Cerca de 850 milhões de pessoas “têm ido dormir com fome”, afirma Uver.

O relatório das Nações Unidas indica ainda que a demanda por alimento no mundo vai aumentar em 50% até 2050. Consequentemente, “haverá aumento pela demanda de água”.

“O mundo terá que achar uma forma de suprir essa demanda. O volume de água sempre foi constante e, se vai aumentar a produção de alimentos, é preciso se preocupar em oferecer maior volume per capita de recursos hídricos.”

Como solução para o problema, Uver pontuou que é importante “analisar tanto soluções verdes como soluções cinzas”. As expressões se referem às tecnologias baseadas na natureza, como o reflorestamento de nascentes e bacias, e àquelas que exigem mais infraestrutura, como barragens e cisternas.

Agricultura sustentável
Outros participantes da mesa citaram os impactos do agronegócio e da monocultura – produção de um único alimento em larga escala – como um dos fatores que tem levado à degradação ambiental e, consequentemente, ao problema da fome no mundo.

A representante da Articulação pelo Semiárido Brasileiro (ASA) no debate, Leninha de Souza, lembrou que o “desmatamento do cerrado pelo agronegócio é uma violência às comunidades dependentes desse berço”.

“O cerrado é o berço das águas, de onde saem bacias hidrográficas como a do São Francisco. Desmatar esse bioma significa comprometer a oferta de água no Brasil.”

Troca de experiências

Pela manhã, o príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, assistiu às apresentações dos governadores do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Os gestores apresentaram as experiências dos respectivos estados na superação da crise hídrica.

 Planejamento como solução

Na sessão de “Processos Políticos” – mesa mais voltada à participação social –, o tema foi o impacto de fenômenos como a expansão urbana e de favelas, e o desenvolvimento focado em automóveis, no fluxo hídrico e na capacidade das cidades de aproveitarem ao máximo a água. Ao todo, 112 meses foram organizadas nesta terça.

Nesse debate, especialistas apontaram a importância do “planejamento integrado de longo prazo” e da cooperação intergovernamental, como meios para se resolver questões relacionadas à água.


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