O 8º Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília entre os dias 18 e 23 de março, reservou lugar para as empresas poderem mostrar ao mundo como lida com a questão da água. Na verdade, são dois espaços a serem visitados por públicos diferentes: a Expo, com acesso restrito aos inscritos no Fórum; e a Feira, que terá o ingresso gratuito, fraqueado ao grande público, instalada na Vila Cidadã que será montada no Estádio Mané Garrincha.
O diretor de Operações do 8º Fórum Mundial da Água, Rodrigo Cordeiro, responsável por todo o processo de comercialização dos estandes e espaços da Expo e da Feira, considera essa uma grande oportunidade para as empresas se comunicarem com o público na linguagem mais apropriada. Ele explica que “na Expo, onde o público é muito mais segmentado e o acesso é restrito aos inscritos no Fórum, a linguagem pode ser um pouco mais técnica. Já para a participação na Feira, a linguagem deve traduzir tudo aquilo que a empresa faz em informação que a sociedade consiga entender”.
Nesta entrevista exclusiva à Agência Brasil, Cordeiro lembrou que, a partir das crises hídricas que têm ocorrido com frequência no Brasil e em outras partes do mundo, houve uma tomada de consciência maior por parte de todos. Tanto das autoridades que precisam envolver as pessoas no cuidado da água quanto esses consumidores, e aí incluem-se as empresas de um modo geral. Há essa oportunidade de levar a informação diretamente para um publico interessado no assunto. “A questão da água entrou na pauta da sociedade”, destaca.
Agência Brasil – O 8º Fórum Mundial da Água criou esses dois espaços distintos com propostas distintas. Vamos começar pela exposição. Quem participa?
Rodrigo Cordeiro – A Expo tem um grupo muito amplo de expositores, desde instituições do setor publico ligadas direta ou indiretamente com o tema da água a empresas que são usuárias de água, como as do setor de energia, do petróleo e dos vários segmentos que são grandes usuários de águas. Essas empresas decidiram participar porque entendem que o Fórum Mundial da Água é o local adequado para a exposição de seus produtos, seus projetos e suas soluções para o uso da água.
Agência Brasil – E qual é o interesse desses expositores? É vender produtos ou fazer simplesmente a divulgação de suas marcas?
Cordeiro – A área de exposição do 8º Fórum é dividia em duas partes: uma delas se chama Expo e a outra, Feira. A Expo é um espaço destinado para as empresas que querem prospectar negócios ou simplesmente conversar num ambiente de negócios, assim também como ter encontros com governos, universidades etc. Então, esse é um espaço restrito para os participantes inscritos no 8º Fórum Mundial da Água. Já a Feira traz esses mesmos grupos ao encontro de outro grande grupo, que é o dos consumidores. Então a Feira é um espaço aberto ao publico em geral.
Agência Brasil – O acesso à Feira então é gratuito, mas para a Expo é pago?
Cordeiro – Sim. A Expo tem o acesso restrito aos inscritos como participantes do Fórum que pagaram para participar do evento. Mas é bom que se diga que nem todos pagaram pela inscrição; a gente tem muitas cortesias cedidas para grupos cuja participação o Fórum quer incentivar. Pelo Processo Cidadão, foi feita uma chamada de pessoas interessadas em participar e que não teriam condições de vir ao Brasil. Ao final, quando esse processo se encerrou, tivemos 200 pessoas inscritas, de todas as partes do mundo. Portanto, a participação no 8º Fórum também é algo muito democrático.
Agência Brasil – Voltando às empresas na Expo, quantas delas já compraram espaços para os seus estandes?
Agência Brasil – Para o expositor, qual é exatamente a diferença entre a Expo e da Feira?
Cordeiro – A diferença é uma questão puramente conceitual e depende do que a empresa quer mostrar no seu estande. Na Expo, o publico é muito mais segmentado, até pelo acesso restrito aos inscritos no Fórum, então a linguagem pode ser um pouco mais técnica. Já para a participação na Feira, a recomendação que a gente vem dando aos expositores é a de que a linguagem seja mais acessível, isto é, que traduza tudo aquilo que a empresa faz em informação que a sociedade consiga entender. Portanto é um outro conceito de exposição.
Eu diria que a característica do que as empresas vão mostrar tem um formato mais lúdico e um conteúdo mais informativo. Por exemplo, se nós convidamos uma grande empresa como a Coca Cola para a Expo, bem, trata-se de uma marca que todo mundo conhece, e num ambiente de negócios como é a Expo, o que ela teria pra mostrar seria muito sucinto; basicamente ela diria que é neutra em consumo de água, que devolve para a natureza tudo o que ela consome e não tem muito mais a dizer. Mas quando a convidamos para a Feira, ela é capaz de dizer tudo o que ela faz em relação água para a sociedade como um todo. Ou seja, é a mesma informação, mas entregue de uma outra forma, para um público muito maior.
Agência Brasil – E esse público que vai à Feira deve ser muito maior do aquele que vai visitar a Expo, certo?
Cordeiro – Sim, porque o acesso à Feira se dá pela Vila Cidadã, que é aquele espaço lúdico, criado para que as pessoas sejam levadas a se engajar no tema da água. Então o número de visitantes é maior.
Agência Brasil – E o que esses visitantes vão encontrar a Feira?
Cordeiro – Eles vão encontrar oficinas, workshops, cinema, arena de conhecimento, mostra de tecnologia, enfim uma série de ações da Vila Cidadã que faz com que os visitantes se capacitem a entender que é esse universo da água. E nesse contexto a Feira vai permitir conhecer as empresas e tudo o que elas fazem num ambiente corporativo em prol da água. Por isso nós falamos que a entrega de informação para a sociedade se dá numa linguagem muito clara, que permite ao visitante entender o que faz cada uma das empresas que tem lá dentro.
O visitante vai encontrar, por exemplo, óculos de realidade virtual que simula uma visita a um reservatório de água. Pouca gente conhece um reservatório de água. Imagine então poder ver o reservatório no período de cheia e comparar com o reservatório no período de seca, quando surge a crise hídrica. Então essa é uma informação tecnológica mas com o impacto visual. A provocação que a gente vem fazendo a todas essas empresas é a de que saibam se comunicar e, num evento como esse, todas consigam atrair mais jovens mas se engajarem no tema da água.
Agência Brasil – Com esse problema das crises hídricas, o senhor acha que as pessoas de um moldo geral já estão ligadas no problema da água?
Cordeiro – Sim, mas o principal desafio é engajar mais gente em prol desse tema. A água finalmente entrou na pauta da sociedade, e demorou bastante. Todos os alertas que a comunidade técnica e científica podia dar, ela já deu. Mas poucas foram as ações efetivas a partir dai. Quando a gente realiza um evento desse porte no Brasil, essa é a grande oportunidade para uma mudança completa de comportamento em relação ao problema da água. Quando você vive episódios de crise hídrica, você fica mais a fim de entender com mais profundidade aquele tema.
Agência Brasil – O senhor disse que na Expo, a maior parte dos expositores são empresas. E os países? Há representação de algum país, algum governo?
Cordeiro – A maioria dos países escolheu participar da Expo. São 16 pavilhões de grande porte de países já comercializados. Que vão mostrar aqui tudo o que eles fazem com relação ao tema da água. Mas tem um país que optou por montar seu estande na Feira: o Tajiquistão, que optou por ficar na Feira em função do turismo. E esse é um fato curioso porque é um país que percebeu a vantagem de participar de um evento desse porte no Brasil que tem 200 milhões de habitantes e ter a grande chance de despertar o interesse do brasileiro de visitar o seu país. Então a Feira é interessante para isso. Porque o público total da Expo é o de participantes do Fórum, que é na casa de 10 mil pessoas. Já na Feira, nos temos um horizonte de 45 mil pessoas, porque para Vila Cidadã a gente espera 35 mil somados aos 10 mil da Expo.
Agência Brasil – Uma das questões que os ambientalistas sempre levantam diz respeito à quantidade de água gasta na agropecuária, que equivale a 70% de toda a água consumida no planeta. Alguma entidade, alguma empresa desse setor vai participar da Expo ou da Feira?
Cordeiro – A Confederação Nacional da Agricultura – CNA – vai estar presente na Expo com um estande bastante grande.
Agência Brasil – Mas tem alguma empresa ligada ao agronegócio?
Cordeiro – Por enquanto, não. Nós estamos ainda em negociação com algumas empresas que produzem insumos para a agricultura. Eu acredito que o evento tem que ser democrático, que quando uma empresa vem mostrar tudo o que ela é capaz de fazer, isso significa que ela tem uma noção muito clara do produto que ela vende. O fato é que a gente precisa de fertilizantes, a gente precisa desse tipo de produto para a produção agrícola. Nem toda a agricultura consegue ser orgânica, isso não é sustentável de uma forma global. E essas empresas, muitas delas, fazem muito pela água. Portanto, eu acho que, em vez de selecionar, que tal a gente convidar todo mundo para dizer o que eles fazem? Porque isso fortalece o processo. Então, todas as empresas podem decidir se querem estar na Expo ou na Feira ou nos dois espaços. É uma decisão estratégica da empresa, a escolha da linguagem que ela vai usar para comunicar aquilo que ela faz.