Uma usina que vai queimar pneus para geração de energia elétrica deverá ser instalada em Três Corações (MG). A doação da área pela prefeitura está na Câmara de Vereadores e aguarda aprovação. No entanto, muita gente questiona os impactos ambientais da usina.
A ideia é que a usina seja construída em um terreno às margens da MG-862, em uma área de mais de 490 mil metros quadrados. Segundo o prefeito de Três Corações, a empresa pode trazer vários benefícios para a cidade.
“Primeiro lugar os empregos, que são fundamentais. Na construção, 300 empregos e na implantação, 40 empregos, além das usinas acessórias que vão processar esse material que será utilizado na usina”, disse o prefeito de Três Corações, Cláudio Pereira (PMDB).
A usina também poderá ser uma alternativa para um problema que vem crescendo nas cidades: a destinação de pneus usados. A proposta da empresa é utilizar esse tipo de material para produzir o gás necessário para geração de energia.
A escolha de Três Corações para a instalação da usina foi pela distância semelhante até Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, que podem fornecer a matéria-prima. No entanto, a forma como esse processamento seria feito tem chamado a atenção.
A companhia pretende utilizar uma tecnologia para a gaseificação de pneus através de tochas de plasma, inédita no mundo. Ou seja, o aquecimento de pneus seria feito a cinco mil graus, para que a matéria se transforme em gás. A capacidade seria de 180 mil toneladas de pneus por ano, o que poderia gerar até 60 MW por hora.
Uma urbanista que teve acesso ao estudo de impacto ambiental, questiona a quantidade de enxofre que será gerada e principalmente a quantidade de água necessária para o processo, de 39 litros por hora.
“Seria o consumo de 8,5 mil pessoas, de acordo com a ONU, 110 litros por dia. E significa que essas pessoas, o equivalente a essas pessoas, teriam prioridade no consumo em um momento de escassez. Se eles têm um contrato e a usina não pode parar, fica tudo misturado e você acaba tendo a prioridade para a usina e não para as pessoas”, disse a arquiteta e urbanista especializada em meio ambiente, Angela Azevedo.
Ela chegou a pedir a realização de uma audiência pública para discutir o assunto. Três comissões da Câmara de Vereadores já reprovaram o projeto enviado pela prefeitura para que o município doe o terreno, avaliado em quase R$ 2,5 milhões. Ainda falta o parecer da Comissão de Constituição e Justiça. Alguns dos vereadores da cidade são contra.
“Por que que já não é para a instalação da empresa? Isso é uma lacuna que existe, inclusive a gente pediu vários documentos da empresa para estudar, eu acredito que esse projeto não passando eles devem entrar com um outro projeto que eles podem fazer, mudando o objetivo do projeto”, disse o vereador Eder Augusto Costa (Rede).
O prefeito diz que a câmara precisa reavaliar o projeto e que a instalação da usina trará visibilidade para o município.
“Nós colocamos Três Corações na rota de desenvolvimento de Minas Gerais, do país e vamos receber a visita de muitas pessoas do mundo todo para conhecer a tecnologia de plasma”, completou o prefeito.
Segundo a prefeitura, se a doação da área for aprovada na câmara, a construção da usina começa em seis meses. Depois, são três anos para ela começar a funcionar. O investimento deverá ser de R$ 200 milhões.
O diretor financeiro da empresa, Guilherme Brumer, disse que a tecnologia é segura e já foi utilizada até pela Nasa para testar as cápsulas de retorno nas missões espaciais. Já a Copasa disse, em nota, que o sistema de abastecimento de água de Três Corações tem capacidade para fornecer os 38 metros cúbicos de água para suprir a demanda da usina, sem causar prejuízo no abastecimento à população.