O jornal Les Echos publicou um caderno especial sobre projetos de economia circular, modelo que propõe um reaproveitamento de tudo o que é produzido para diminuir o impacto dos resíduos. A produção orgânica do grupo brasileiro Native, ex-Balbo, é um dos 20 projetos apresentados na edição francesa.
O texto, publicado originalmente no jornal Valor Econômico, explica que a agroindústria brasileira representa 23% do PIB nacional e 30% dos empregos no país, daí a importância deste setor adotar práticas sustentáveis. Primeiro produtor mundial de açúcar, o Brasil exporta 28 milhões de toneladas do produto por ano. “Mas esta produção tem um gosto amargo, por causa do uso de fertilizantes e de outras substâncias químicas que provocam erosão do solo, poluição da água e efeitos nocivos à saúde humana e animal”, observa a reportagem.
O caso do grupo Native é a prova de que práticas ultrapassadas no plantio da cana-de-açúcar podem ser modernizadas sem dano à rentabilidade dos fazendeiros.
Fundado em 1946, o grupo brasileiro modificou seu modo de produção em 1986, quando o vice-presidente e herdeiro Leontino Balbo Junior, na época recém-formado em agronomia, decidiu introduzir métodos mais ecológicos no cultivo da cana.
O empresário criou o programa ARE, sigla para “agricultura de revitalização do ecossistema”. Ele colocou fim às queimadas e criou um laboratório de pesquisas de 16 mil hectares, onde observou variedades de plantas que contaminavam a terra e foram banidas. Balbo Junior também desenvolveu maquinário próprio para o corte da cana ainda verde, criando um sistema em que ao mesmo tempo que recolhe a colheita, aproveita as folhas da cana como nutrientes do solo, exemplo típico do zero desperdício e das virtudes da economia circular.
Pesquisa, paciência e ousadia
Os esforços do industrial brasileiro foram recompensados, destaca o jornal Les Echos. Hoje, ele pode observar de seu escritório uma paisagem verde exuberante. “Nas terras do grupo Native, os animais convivem com os pés de cana sem prejudicar em nada a produtividade do negócio”, destaca a reportagem. O grupo produz 87 mil toneladas de açúcar orgânico por ano, o que representa 34% da produção mundial. No Brasil, a cultura do açúcar idealizada por Leontino Balbo Junior, respeitosa da natureza, segundo Les Echos, tornou-se mais rentável do que nunca.
Esse exemplo brasileiro, apresentado ao lado de projetos curiosos como a seda alemã mais resistente do que o aço ou o caviar italiano produzido em águas residuais da atividade siderúrgica, mostram que a economia circular exige muita pesquisa e tornou-se indispensável.