Referência histórica, Rio Cachoeira aguarda revitalização

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csm_sustentabilidade-rio-cachoeira_a8229a2e6aBacia Hidrográfica ocupa uma área de 4,6 mil quilômetros quadrados e abrange uma população estimada em 800 mil habitantes

“O Rio Cachoeira não é só uma referência geográfica, é um patrimônio histórico, é o próprio testemunho da história de Itabuna e da região, uma vez que, pelas suas margens penetraram os desbravadores como Félix Severino do Amor Divino e Manoel Constantino, que deram origem à cidade. Por ele chegaram os frades que catequizaram os índios, e os naturalistas que vieram estudar a flora, como Von Martius e Von Spix”. O trecho acima, que pode ser encontrado no livro De Tabocas a Itabuna (Editus, 2005), de autoria de Maria Palma Andrade e Lurdes Bertol Rocha, deixa evidente a importância do Rio Cachoeira para os municípios da região Sul da Bahia.

Situada no litoral Sul da Bahia, a Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira ocupa uma área de 4.600 quilômetros quadrados e abrange uma população de aproximadamente 800 mil habitantes, distribuídos nos municípios de Itororó, Firmino Alves, Santa Cruz da Vitória, Itaju do Colônia, Floresta Azul, Ibicaraí, Barro Preto, Jussari, Itapé, Itabuna e Ilhéus.

As principais atividades econômicas desenvolvidas no entorno da bacia são agropecuária, comércio, turismo e indústria de transformação. Contudo, apesar dessa relevância, a Bacia do Rio Cachoeira teve grande parte de sua vegetação florestal devastada nos últimos anos, além de sofrer com a erosão sobre os terrenos inclinados e o assoreamento em vários pontos do leito dos rios, no período das chuvas fortes, quando recebem grande volume de água e transportam os sedimentos.

 Na tentativa de recuperar esse ecossistema, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) apresentaram na quarta-feira (25/10), em Ibicaraí, o Plano Estratégico de Revitalização do Rio Cachoeira às prefeituras que integram a bacia hidrográfica. O documento foi desenvolvido a partir do diagnóstico ambiental da região, de audiências públicas e de contribuições colhidas por plataforma online.

Ampliar ações

Com investimentos de R$ 1,4 milhão, o Plano Estratégico é uma das etapas do Projeto Cachoeira, inserido no Programa de Desenvolvimento Ambiental (PDA – Bahia), realizado pela Sema e o Inema, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – e que conta com aporte total de R$ 4 milhões. “A revitalização da bacia hidrográfica já foi iniciada, precisamos agora somar forças com os parceiros interessados para ampliar as ações e melhorar qualitativamente a realidade atual do Rio Cachoeira”, afirma o diretor de Políticas de Biodiversidade e Florestas da Sema, Murilo Figueredo.

Além do Plano Estratégico, o projeto inclui entre sua as ações o Diagnóstico Ambiental Local, Restauração Florestal de 150 hectares de matas ciliares e o cadastramento de pequenas propriedades da agricultura familiar no Cadastro Ambiental Rural (CAR/Cefir). “Nosso desejo é que venha a ser um modelo de política ambiental e de desenvolvimento sustentável para a região”, projeta o presidente de Bacias Hidrográficas do Leste, Luciano Veiga.

Reflorestamento

Iniciativas do poder público em parceria com a sociedade civil têm sido implantadas no âmbito do Projeto Rio Cachoeira. Uma delas foi realizada no assentamento Frei Vantuy, no distrito de Vila Cachoeira, em Ilhéus. Lá, houve o reflorestamento de 20 hectares e a plantação de 60 mil mudas nativas e frutíferas. “Conseguimos recuperar 20 nascentes que desaguam no Rio Cachoeira. Temos um orgulho muito grande de dizer que somos uma comunidade que conseguiu fazer com que o nosso assentamento pudesse ser referência na área de preservação florestal”, comemora a presidente do assentamento, Maisa Fontana.

A geógrafa e mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Maria Luzia de Mello, defende que as ações de revitalização da bacia hidrográfica sejam permanentes, bem como o debate acerca do tema. “São avanços importantes, mas que prescindem de continuidade. É preciso conquistar novos adeptos ao trabalho de conscientização das populações que vivem no entorno do rio para a necessidade de adoção das práticas sustentáveis que garantam sua sobrevivência”, acrescenta.

Criação de observatório

Em abril deste ano, representantes da Associação dos Municípios da Região Cacaueira da Bahia (Amurc) e da Bacia Hidrográfica do Leste entregaram ao governo do Estado um projeto para a criação do Observatório da Bacia Hidrográfica do Leste.

O objetivo é formar um banco de dados (disponível na internet) para a Bacia Hidrográfica do Leste, com foco na integração de diversas informações, o que auxiliará na condução das políticas públicas e privadas do setor. Outra meta é tornar acessíveis os planos de saneamento básico dos municípios e estudos de universidades.

Projeto

O Projeto Cachoeira tem como objetivo a recuperação e preservação da Bacia do Rio Cachoeira, por meio de ações que promovam a proteção de nascentes e cursos d’água. O documento contempla uma visão de curto, médio e longo prazos, traduzida em três fases de implementação, que contemplam o Plano de Governança, as áreas e estratégias prioritárias de ações de conservação, restauração, manejo florestal, manejo de solo, controle de erosão, mudança de uso do solo, requalificação de malha viária, remoção de sedimentos, esgotamento sanitário, contenção de encostas e margens, monitoramento hidrológico. O estudo inclui ainda o planejamento de diversos projetos-pilotos dessas estratégias, para serem implementados nas áreas prioritárias para revitalização.


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