A relação da peruana Kerstin Forsberg com o meio ambiente começou cedo. Seu bisavô e seu avô trabalhavam com pescaria artesanal, o que selou sua ligação com o mar.
Na hora de optar pelo curso superior, biologia foi a escolha óbvia. “Na faculdade, comecei a trabalhar em vários projetos ligados ao meio ambiente marinho, como voluntária. O oceano já era minha paixão”, afirmou a empreendedora, durante palestra o Festival de Cultura Empreendedora.
Um desses projetos a trouxe ao Brasil. Em 2007, veio a Ubatuba para trabalhar como estagiária no Projeto Tamar, que tem como objetivo proteger as tartarugas marinhas. “Fiquei tão encantada que, na volta ao Peru, decidi que continuaria a trabalhar para proteger esse animais.”
Para poder se dedicar totalmente às questões relacionadas ao mar, fundou em 2009 a ONG Planeta Océano. Na nova organização, passou a focar na criação de uma network que unisse todos os players: governo, empresas, pescadores e escolas. “O meu trabalho tem três pilares: a pesquisa, feita em parceria com instituições e com a ajuda de voluntários; a educação das crianças sobre a vida marinha, em currículos desenvolvidos com os professores; e o desenvolvimento sustentável, com a introdução do ecoturismo na costa peruana.”
Em pouco tempo, descobriu que havia uma outra espécie em perigo no Peru, e que precisava ser protegida: as arraias-jamantas. “Eram animais fascinantes e belos, com sete metros de largura, e muito vulneráveis. Conversando com pesquisadores do Equador, percebi que havia uma grande quantidade delas nas nossas águas, mas que esse número estava diminuindo. Era preciso agir rápido”, afirmou. Tentou chamar a atenção do governo, sem sucesso.
“Mandamos uma proposta de preservação, e não tivemos nenhuma resposta”, afirmou. Em vez disso, decidiu recrutar a ajuda das comunidades locais – inclusive dos pescadores.
“O projeto mudou a minha percepção sobre os pescadores”, disse. Em vez de inimigos, eles se tornaram seus maiores aliados. Em primeiro lugar, mostrou às comunidades que a arraia era mais valiosa viva do que morta – se promovessem passeios com turistas para avistá-las, poderiam ganhar um bom dinheiro com isso. Depois, passou a conscientizá-los sobre a necessidade de preservar a fauna marinha como um todo. “Nas conversas, expliquei a eles que os recursos marinhos não são inesgotáveis. A pesca excessiva acaba com as reservas de peixes e com o sustento deles.”
Em 2015, conseguiu sua primeira grande vitória: o governo peruano finalmente proibiu a pesca das arraias-jamantas. No ano seguinte, outra conquista: Kerstin foi a vencedora do Rolex Awards na categoria meio ambiente. “O prêmio mudou a minha vida. Além de dar visibilidade ao projeto, mostrou que estava no caminho certo.” Os recursos recebidos vão ser usados em seus projetos de turismo de observação de arraias no Peru. Além disso, a empreendedora desenvolve no momento um plano para levar a educação ambiental marinha para outros países, seguindo o modelo criado pela Planeta Océano. “Espero que um dia possamos replicar esse formato em todo o mundo.”
Cuidar da preservação do meio ambiente não é apenas obrigação de organizações como a Planeta Océano, afirmou a empreendedora. “Empresas e consumidores devem trabalhar juntos para salvar o meio ambiente.” E não é preciso ter experiência na área para colaborar. “Comecei muito jovem a trabalhar com preservação do meio ambiente. Não sabia nada de gerenciamento de recursos, gestão de pessoas, empreendedorismo. Mas sabia que o oceano precisava da minha ajuda. Então foi isso que me estimulou a ir em frente. É isso que me move. Não consigo me imaginar fazendo nada diferente.”