Avanços militares na Nigéria expõem graves necessidades humanitárias do país

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Desde que a insurgência no nordeste da Nigéria começou há sete anos, a região enfrenta grave crise. A insegurança tem forçado mais de 187 mil nigerianos a atravessar a fronteira, mas incursões do Boko Haram nos países vizinhos também geraram um número crescente de deslocados internos. De acordo com dados mais recentes da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), há mais de 2 milhões de pessoas deslocadas dentro da Nigéria.

Avanços da campanha militar contra o grupo Boko Haram, no nordeste da Nigéria, têm exposto nas últimas semanas níveis catastróficos de sofrimento entre a população da região, sendo que muitos nigerianos estão há meses ou anos fora do alcance da ajuda humanitária, advertiu nesta sexta-feira (19) a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

O avanço promovido pelas forças do governo nigeriano em cooperação com a Força Multinacional reconquistou territórios antes conquistados pelos militares rebeldes, cuja insurgência deslocou mais de 1,8 milhão de pessoas na Nigéria desde 2009.

“Atualmente, com a campanha militar ainda em andamento, a situação está mudando e permanece perigosa e volátil”, disse o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, em coletiva em Genebra. “Tem havido frequentes incidentes e ações executadas por militantes, incluindo atentados suicidas, ataques contra civis, incêndios de casas e roubo de gado”, acrescentou.

Edwards disse que um comboio da ONU foi atacado com um explosivo improvisado e tiros no dia 27 de julho, deixando três trabalhadores humanitários feridos, bem como membros da escolta militar. Ele ressaltou que “o nível de perigo e dificuldade em entregar ajuda para salvar vidas é elevado — assim como, por consequência, os custos”.

Enquanto muitas áreas ainda estão fora do alcance dos trabalhadores humanitários, Edwards disse que nos estados de Borno e Yobe, a imagem de sofrimento é “chocante”. “Há numerosos relatos de violações dos direitos humanos, incluindo assassinatos, violência sexual, desaparecimentos, recrutamento forçado, conversões religiosas forçadas e ataques a instalações civis”.

Cerca de 800 mil deslocados internos precisam de ajuda, com relatos de desnutrição grave em larga escala. No estado de Borno, 51.474 pessoas estão na lista de criticamente vulnerável do ACNUR, sendo 21.912 crianças — enquanto de três quartos delas perderam um ou os dois pais.

Complicações adicionais de deslocamento forçado surgiram como efeito da atividade militar, com maior insegurança no norte e oeste do país, próximo às fronteiras com Camarões, Chade e Níger. Os ataques violentos contra militares na cidade Bosso, em 3 de junho, resultou no pior deslocamento registrado desde o início da crise em 2013.

Nesse contexto, em torno de 105 mil refugiados nigerianos têm sido pressionados para se manter nos estados de Borno, Adamawa e Yobe, tornando-se novos deslocados internos, com necessidade de recepção, registo e ajudas de proteção, além de abrigo, apoio psicossocial e assistência material.

Edwards disse que o ACNUR está intensificando sua resposta. O foco imediato está nas necessidades de cerca de 488 mil pessoas altamente vulneráveis, e agora concentradas em dez áreas recém-libertadas pelo governo local no estado de Borno, além das necessidades dos refugiados que retornaram ao país.

Agência da ONU tem avaliado necessidades humanitárias

Equipes do ACNUR, em conjunto com outras agências da ONU, do governo e de ONGs nigerianas aproveitaram a abertura de um corredor humanitário estreito para identificar necessidades e avaliar proteção em Damboa, Dikwa, entre outras áreas, em maio e junho.

Recentemente, o ACNUR avaliou as necessidades humanitárias em Bama — a maior cidade do estado de Borno, depois da capital Maiduguri — com uma população pré-insurgência de 350 mil. Não há serviços de administração ou policiais civis nessas áreas, embora tenha havido graduais mudanças desde o ataque contra o comboio da ONU.

“A maioria dos habitantes fugiu, casas e infraestrutura estão comprometidas e, entretanto, as operações de contra insurgência continuam”, disse Edwards a jornalistas.

“Muitos dos deslocados são mulheres, crianças, idosos e outras pessoas com necessidades urgentes. Vimos adultos tão exaustos que eram incapazes de se mover, e crianças com rostos inchados e olhos vazios e outros indícios claros de desnutrição aguda”, acrescentou.

Edwards disse que muitos também mostram sinais de trauma grave. As pessoas queixam-se da falta de comida e água, pois a escassez de óleo diesel na área significa dificuldade para o bombeamento de água dos poços. Mais deslocados chegam diariamente.

Para além destas áreas, o acesso em outras regiões continua a ser impossível sem escolta militar, e quando ocorre, se dá por períodos de apenas algumas horas. Há necessidade urgente de veículos blindados e escoltas militares, para dar segurança e proteção ao ACNUR e parceiros humanitários de forma a atingir mais eficazmente as populações vulneráveis.

Um certo número de campos satélites destinados aos deslocados internos, que atualmente estão sendo gerenciados por militares ou grupos de segurança locais, estão abaixo do padrão e precisam estar sob a gestão de agentes humanitários com a experiência adequada para garantir o caráter civil destas áreas.

Desde que a insurgência no nordeste da Nigéria começou há sete anos, o país iniciou uma grave crise regional que o confronta com seus três vizinhos da bacia do lago Chade — Chade, Camarões e Níger.

A insegurança tem forçado mais de 187 mil nigerianos a atravessar a fronteira, mas incursões do Boko Haram nos países vizinhos também têm gerado um número crescente de deslocados internos. Há 157 mil pessoas deslocadas internas em Camarões, 74,8 mil no Chade e mais de 127 mil no Níger. De acordo com dados mais recentes, há mais de 2 milhões de pessoas deslocadas dentro da Nigéria.

Fonte: ONU Brasil

Foto: IRIN/Anna Jefferys


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