Sistema BikePE está sucateado, diz jornal

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A confiabilidade do sistema público de aluguel de bicicletas, que virou moda há uns cinco anos no país e em Pernambuco se transformou no BikePE, está sob risco no estado. Encontra-se sucateado.

Por isso, mais uma vez, a reportagem dá voz às reclamações dos usuários. Redução sensível da oferta de bicicletas, estações com terminais oxidados, bikes com péssima manutenção e falhas na leitura do sistema são as queixas.

Esse é o quadro do projeto na Região Metropolitana do Recife, que começou com 80 estações na capital, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, e, quatro anos depois, no lugar de expandir, retrocedeu para 79 unidades.

Basta encostar numa das estações que os usuários já começam a reclamar. “Quem usa, sabe. O sistema está sucateado. Não sei o que aconteceu, mas os problemas são cada vez mais frequentes. Uso quase todos os dias e hoje percebo bem menos bicicletas, equipamentos sem freio, até sem pedal, e muitas falhas no registro de devolução das bikes. Somente esse ano, tive cinco problemas do tipo. Resultado: você devolve a bicicleta e pensa que está tudo certo. No dia seguinte, quando precisa pegar de novo, descobre que o cartão está bloqueado e a resolução do problema demora demais”, desabafa a advogada Paula Crisóstomo, usuária assídua do Bike PE.

A advogada cita como exemplo da redução de oferta de bikes a unidade em frente à Estação Central do metrô, no Centro do Recife. “Antes, quando eu chegava à noite, não tinha lugar para deixar a bicicleta. Hoje, quando muito tem são duas. É preciso que algo seja feito porque o projeto é muito útil para a cidade”, diz.imagemhandler

E as queixas não são de fim de semana. São feitas por pessoas que utilizam o BikePE na sua concepção primordial: a do uso da bicicleta como transporte e/ou integração com outros tipos de modais, especialmente o ônibus e o metrô.

Problemas
A reportagem percorreu algumas estações do centro expandido do Recife e constatou os problemas. O mais comum, agora, é a ausência das bicicletas. As estações estão sempre vazias, mesmo em horários fora pico.

As falhas de leitura que eram frequentes nos cartões VEM Estudante e Trabalhador e no aplicativo BikePE foram reduzidas, é fato, mas outros problemas surgiram. Agora, também acontece a falha de comunicação entre o terminal: a mensagem sem bicicleta disponível é dada com frequência, apesar de haver bikes no local.

Esses problemas têm reflexo nas reclamações dos usuários e também na operação do sistema. Por isso, os responsáveis pelo projeto – governo do estado, Itaú e Serttel – não têm como negar ou minimizá-los.

A queda do uso de bicicletas é vertiginosa e começou a acontecer em julho deste ano. E só despenca desde então (confira gráfico). A leitura de grupos envolvidos com a ciclomobilidade é de que a queda não é porque as pessoas usam menos, mas porque há menos bicicletas disponíveis e mais falhas no sistema que impedem as pessoas de usar o serviço. Os ciclistas cogitam, inclusive, acionar o MPPE.

Numa comparação com outros sistemas da mesma dimensão do pernambucano, como o Bicicletar, de Fortaleza (CE), se percebe a redução de viagens, reflexo dos problemas técnicos. Enquanto o BikePE teve 812 viagens no dia 21/11, o BikeFortaleza realizou 2.073, mais do que o dobro. O total de viagens também impressiona. Enquanto o BikePE totaliza 1 milhão de viagens até agora, o BikeFortaleza soma 1,3 milhão, mesmo tendo começado em 2014, dois anos depois do sistema pernambucano.

Em conversa com a equipe do JC, o secretário de Turismo de Pernambuco, Felipe Carreras, gestor governamental do projeto, reconheceu e disse estar atento aos problemas do BikePE. Garantiu que tem notificado os responsáveis pela manutenção do sistema e que a partir do próximo mês o projeto estará passando por uma reestruturação. “Percebemos as dificuldades e estamos agindo. Em janeiro nossos usuários estarão notando os efeitos da mudança. O projeto é prioridade porque já virou propriedade da população, da cidade”, afirmou.

Negociações
O secretário não quis comentar, mas nos bastidores a informação é de que a Comparti Bike será o novo parceiro nacional do Itaú no projeto, substituindo a Serttel devido a transações financeiras entre as duas empresas de ciclomobilidade. A negociação teria ocorrido em março deste ano e, desde então, a substituição vem sendo negociada. Por isso a queda na manutenção dos equipamentos.

A promessa, entretanto, é que a Compartibike faça um upgrade no projeto. A empresa já tem experiência no setor, respondendo por sistemas como o da USP e de algumas cidades do interior de São Paulo, estacionamento de bikes da Supervia, no Rio de Janeiro, e de bicicletas compartilhadas condominiais.

O Itaú, financiador do BikePE e de vários projetos no país, como o BikeRio (mais de 8 milhões de viagens) e o BikeSampa (mais de 2 milhões), não deu entrevista sobre o assunto, mas enviou uma nota oficial dizendo que “o banco está ciente das questões que impactam a operação em Recife e trabalhando ativamente na revisão de processos para que, em breve, se tenha um cenário de melhor qualidade na capital pernambucana”.

Além dos problemas, a Associação Metropolitana de Ciclistas (Ameciclo) criticou o fato de, após quatro anos, o serviço não ter sido expandido e a malha cicloviária prometida não ter sido implantada.

“A falta de confiabilidade no sistema de compartilhamento sofre com a queda do número de bicicletas e sobram relatos de problemas dos usuários. Também não existe um canal para solução das ocorrências. Entendemos que o BikePE não pode e não deve ser abandonado, da mesma forma que nenhuma empresa de ônibus pode encerrar suas operações sem que seja devidamente tratado”, defendeu Cristiane Crespo, da Ameciclo.

Fonte: Mobilize Brasil


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