A servidora pública Glória Melgarejo, de 50 anos, revisava um texto quando leu sobre a seleção de voluntários para a abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro. Interessada, ela se inscreveu e começou ali a “carreira” de voluntariado que nas últimas duas semanas fez uma parada em Cuiabá, para os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs). Histórias como a dela, em que um voluntariado foi levando a outros, não são difíceis de encontrar.
Glória dançou na abertura da Olimpíada e também participou das duas cerimônias da Paralimpíada. “Sempre pensei em voluntariado, mas não para esse tipo de situação”, disse, que a servidora que também é jornalista. “Tem muito a ver com a nossa área, de ser curioso. Tem amigo meu que fala que eu sou maluca, que estou tirando férias para trabalhar”.
A ida para o JUBs foi combinada com um dos amigos que fez na Olimpíada, o professor de educação física, pedagogo e enfermeiro Paulo Roberto Batista, de 44 anos, que tinha começado no voluntariado um pouco antes, na Copa do Mundo de 2014.
“Acho bonito o trabalho, mas acho que o voluntariado no Brasil ainda está engatinhando, pouco desenvolvido”, disse. Para os próximos anos, as metas são ir para os Jogos de Tóquio, Copa do Mundo da Rússia e Pan-Americano de Lima.
Paulo acredita que o voluntariado vem crescendo no Brasil e que empresas e universidades poderiam se inspirar em outros países e valorizar quem tem a experiência no currículo. “Tenho amigos que moram no Canadá, e que dizem que quem não faz voluntariado, não se forma”.
Ser voluntário requer suporte financeiro enquanto o trabalho não remunerado é exercido. João Gustavo de Oliveira, de 17 anos, mora em Palmas, capital do Tocantins, e chegou a se inscrever para ser voluntário nos Jogos do Rio, mas problemas financeiros na família impediram que fosse para a competição.
“Comecei quando tinha 12 anos”, disse o estudante de ensino médio, que quer cursar odontologia e trabalha como voluntário no JUBs deste ano. “A experiência é o que conta mais, a convivência com pessoas de outros estados e a troca de experiências”. João Gustavo informou játer sido voluntário em mais de 70 eventos, incluindo os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.
“A família gosta bastante, mas alguns me criticam e falam que já está demais. Eles perguntam porque você não trabalha ganhando em vez de trabalhar de graça?”
A crítica é muito parecida com a que ouve o cuiabano Thiago Barroso, que começou a ser voluntário quando a Copa do Mundo chegou a seu estado, e também trabalhou nos Jogos Olímpicos. “Na Paralimpíada, eu não trabalhei porque tive que voltar para me formar”, disse, informando que concluiu curso de técnico em radiologia.
“Muita gente falava pra mim: ‘estão ganhando milhões, e esse povo besta trabalhando’ sem ganhar nada. Mas se eu estou fazendo o que eu estou gostando, para mim é essencial”.
Hoje desempregado, Thiago acredita que a experiência como voluntário pode ajudá-lo a encontrar trabalho remunerado. “A gente enriquece conhecimentos, conhece pessoas, novas culturas”.
Fonte: Agência Brasil