Paulo Freire completaria 95 anos

0
991

1474321346

Hoje, 19 de setembro de 2016, Paulo Freire completaria 95 anos. Escrevo em nome de sua memória e presença, sempre vivas entre nós.

   A melhor homenagem que podemos prestar a ele é continuar lendo e relendo seus livros de forma crítica. Honrar um autor é sobretudo estudá-lo e revê-lo criticamente, retomar seus temas, seus problemas, seus questionamentos. Afinal, o que deseja um autor, ao escrever um livro, é que ele seja lido e que seus leitores não sejam simplesmente seguidores de ideias, mas que sejam críticos, que não sejam indiferentes. Convivi com Paulo Freire por 23 anos e sei que ele pensava exatamente assim. E ele sempre dizia: reinventem-me!      Estamos diante de um autor que não ficou indiferente à injustiça. Por isso, criou um pensamento vivo, orientado pela perspectiva do oprimido. Ela está estampada na dedicatória do seu livro mais importante, Pedagogia do oprimido: “Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam”.

     A pedagogia de Freire continua viva e necessária não só porque ainda há opressão no mundo, mas porque ela reponde a necessidades fundamentais da educação do nosso tempo e dos desafios que as diferentes sociedades, brasileira e de todo o mundo, ainda nos apresentam.

       A escola e os sistemas educacionais encontram-se hoje frente a novos e grandes desafios diante da generalização da informação na sociedade que é chamada, por muitos, de sociedade da aprendizagem. As consequências para a escola, para o professor e para a educação são enormes: ensinar a pensar, comunicar-se, pesquisar, ser criativo, recriar conhecimentos, ser independente e autônomo. A escola precisa tornar-se um grande Círculo de Cultura, ser gestora do conhecimento social e, afinal, dialogar com os saberes que acontecem também fora da escola, pois a educação acontece em todos os cantos.

      Alguns certamente gostariam de deixar para trás a contribuição de Paulo Freire na história das ideias pedagógicas; outros gostariam de esquecê-lo, por causa de suas posições políticas. Ele não queria agradar a todos e a todas. Mas havia uma unanimidade em todos os seus leitores e em todos os que o conheceram de perto: o respeito à pessoa. Paulo podia discordar das ideias, mas respeitava as pessoas, com amorosidade. E mais: sua prática do diálogo o levava a respeitar também o pensamento daqueles e daquelas que não concordavam com ele. Definiu-se, certa vez, como um “menino conectivo”.

       Por tudo isso, nós, do Instituto Paulo Freire, que tivemos a honra e o prazer de dialogar com ele, tão proximamente, sentimo-nos felizes por poder contribuir com o prosseguimento do seu sonho, de suas lutas e reinvenção de seu legado.

Moacir Gadotti  – Presidente de Honra do IPF


Deixe uma resposta